O café foi o produto que impulsionou a
economia brasileira desde o início do século XX até a década de 1930.
Concentrado a princípio no Vale do Paraíba (entre Rio de Janeiro e São Paulo) e
depois nas zonas de terra roxa do interior de São Paulo e do Paraná, o grão foi
o principal produto de exportação do país durante quase 100 anos. Foi
introduzida por Francisco de Melo Palheta ainda no século XVIII, a partir de
sementes contrabandeadas da Guiana Francesa.
A economia cafeeira em São Paulo foi o
grande motor da economia brasileira desde a segunda metade do século XIX até a
década de 1920. Como o Brasil detinha o controle sobre grande parte da oferta
mundial desse produto, podia facilmente controlar os preços do café nos
mercados internacionais, obtendo assim lucros elevados. Segundo Celso Furtado,
o maior problema deste sistema econômico era que, sendo o Brasil um país
abundante em terras disponíveis para a agricultura e em mão-de-obra sub
empregada, os lucros obtidos incentivavam novas inversões de capitais no setor,
elevando gradualmente a oferta de café a ser exportado. Por outro lado, a
demanda mundial de café tinha a característica de ser inelástica em relação ao
preço e à renda dos consumidores, isto é, o seu crescimento dependia
fundamentalmente do crescimento populacional dos países consumidores. Assim,
tinha-se uma situação de crescimento da oferta de café muito superior ao
crescimento de sua demanda, indicando uma tendência estrutural de baixa de
preços no longo prazo.
As políticas governamentais de
valorização do café, conforme instituídas do Convênio de Taubaté em 1906,
consistiam basicamente na compra, por parte do governo federal, dos estoques
excedentes da produção de café, por meio de empréstimos externos financiados
por tributos cobrados sobre a própria exportação de café. No curto prazo, tal
política ajudou a sustentar os preços internacionais do produto, sustentando a
renda dos exportadores. Porém, a médio e longo prazo, essa política deu uma
posição de favorecimento do café sobre os demais produtos brasileiros de
exportação, além de inflar artificialmente os lucros do setor (pois essa
política não tinha nenhum impacto sobre a demanda internacional pelo produto),
o que estimulava novas inversões de capitais na produção, pressionando ainda
mais a oferta nacional de café.
A crise internacional de 1929 exerceu imediatamente um duplo efeito na
economia brasileira: ao mesmo tempo em que reduziu a demanda internacional pelo
café brasileiro, pressionando seus preços para baixo, impossibilitou ao governo
brasileiro tomar empréstimos externos para absorver os estoques excedentes de
café, devido ao colapso do mercado financeiro internacional. Todavia, o governo
não poderia deixar os produtores de café a sua própria sorte e vulneráveis os
efeitos da grande crise; o custo político de uma atitude como essa seria
impensável para um governo que ainda estava se consolidando no poder, como era
o caso do governo de Getúlio Vargas no início da década de 1930. Por isso, a
partir deste período, o Estado brasileiro passou a desempenhar um papel ativo
na economia nacional.
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